A cardiomiopatia dilatada é uma afecção miocárdica idiopática, genética ou familiar, caracterizada por dilatação do ventrículo esquerdo ou biventricular, contratilidade reduzida do miocárdio e anormalidades histólogicas dentro do ventrículo (BICHARD et al., 2008) . Os cães mais afetados pela cardiomiopatia dilatada são os cães de grande porte ou gigantes, como os Scottish deerhounds, Doberman , boxers, São Bernardo, Afghan hounds, Newfoundlands e Pastores Ingleses. Entre as raças de pequeno porte, as mais freqüentemente diagnosticadas com a doença são os cocker spaniels americano ou inglês. A maioria dos animais afetados são cães idosos. Na maioria das raças, os machos são mais afetados do que as fêmeas. A idade de maior incidência da doença é, em média, quatro a seis anos, sendo descritos casos em animais de seis meses até 14,5 anos (FOX, 1992).


A cardiomiopatia dilatada ocorre quando o músculo cardíaco está fino, enfraquecido, e não se contrai corretamente. A enfermidade pode levar à insuficiência cardíaca congestiva, com acúmulo de líquidos no pulmão, tórax , cavidade abdominal ou no tecido subcutâneo. Devido à redução do fluxo sanguíneo para o resto do corpo, a cardiomiopatia dilatada também pode provocar fraqueza, desmaios e intolerância aos exercícios.


O ritmo cardíaco anormal, ou arritmia está associado, com freqüência, a cardiomiopatia dilatada e pode complicar o tratamento dos cães afetados pela doença.
O diagnóstico é feito por meio de exame clínico, histórico do animal e exames laboratoriais. No exame clínico já deve ser tido como diagnóstico diferencial cães de raças de grande porte, gigantes e cockers spaniels, que são naturalmente predispostos a essa enfermidade. Outros sinais compatíveis com a cardiomiopatia dilatada que podem ser identificados no exame clínico são: batimento cardíaco extra (“galope”), sopro e arritmias. Pode-se ouvir ainda ruídos anormais nos pulmões dos cães, tosse, taquipnéia ou dispnéia com insuficiência cardíaca do lado esquerdo e pulsação ou distenção da jugular, distensão abdominal, em decorrência de ascites, hepatomegalia, edema, e aumento de peso devido à retenção de líquidos em casos de insuficiência do lado direito. Alguns sinais podem ser observados de ambos os lados, como fadiga ou fraqueza, dispnéia de exercício, taquicardia, palidez, aumento do tempo de reposição capilar, cianose, esfriamento das extremidades e perda de peso.

Nos exames laboratoriais são medidas alterações nas concentrações de determinados constituintes do sangue, como sorologia de proteínas, sódio e potássio, enzimas hepáticas, ureia, creatinina, nitrogênio e outros indicadores de funções renais. Em exame de raio-X observa-se aumento do fígado, e retenção de líquido no abdômen, aumento do volume do coração e alterações dos vasos sanguíneos, e se há insuficiência cardíaca pode ser identificado o acúmulo de líquido dentro e em volta dos pulmões. O eletrocardiograma pode identificar ritmos anormais ou alterações no gráfico normal. A alteração mais comum na cardiomiopatia é a fibrilação atrial. O teste mais definitivo para o diagnóstico de cardiomiopatia é o ecocardiograma, que é uma ultra-sonografia do coração. A dilatação e o aumento das câmaras do coração reduzem a espessura da parede cardíaca e causam uma diminuição da atividade cardíaca, que são características da cardiomiopatia dilatada. Além destas, pode se notar anormalidades da válvula cardíaca. A eco-cardiografia Doppler pode ser usada para estabelecer a gravidade das anormalidades valvulares, com base nas alterações do fluxo sanguíneo através do coração.

A importância da CMD é enfatizada pela sua gravidade, que além dos efeitos deletérios ao organismo causados pela insuficiência cardíaca congestiva, conduz à elevada taxa de mortalidade devido às arritmias (SISSON & THOMAS, 1995). Segundo BONAGURA & WARE (1986), a arritmia mais freqüente é a fibrilação atrial que leva à taquicardia, degeneração miocárdica e morte. Outro fator relevante é a existência de cães assintomáticos, que não apresentam qualquer sinal de disfunção miocárdica, e morrem repentinamente (SISSON & THOMAS, 1995).


O tratamento é estabelecido de acordo com a insuficiência cardíaca congestiva e as arritmias. A droga mais usada para reduzir o acúmulo de líquido que acompanha este tipo de insuficiência é a furosemida. Medicamentos como dobutamina, amrinone e milrinone podem ser usados para aumentar a capacidade de contração cardíaca, mas são indicadas, em princípio, para situações emergenciais de curto prazo. A Digoxina é muito usada em cães com fibrilação atrial, ela também ajuda a abrandar algumas das reações neurológicas e hormonais que contribuem para o agravamento da doença. Outras drogas antiarritmia, como procainamida,e mexitelina são administradas aos cães com arritmias ventriculares, decorrentes de cardimiopatia dilatada (BERNSTEIN, 2010). Vasodilatadores podem ser usados nos tratamentos, de curto e de longo prazo, da cardiomiopatia dilatada para reduzir o esforço que o coração tem que fazer, no bombeamento, para obter o fluxo do sangue.

A deficiência de Carnitina no coração tem se provado potencialmente reversível em pelo menos uma família de Boxers com cardiomiopatia dilatada. Embora o diagnóstico de deficiência de carnitina no coração seja difícil de obter e a eficácia da suplementação com L-carnitina para todos os cães com cardiomiopatia dilatada seja desconhecida, não há indícios de que possa fazer mal. Assim a suplementação com L-carnitina pode ser utilizada em todos os cães com cardiomiopatia dilatada.

A taurina é outra substância que pode exercer um papel importante no tratamento da cardiomiopatia dilatada, particularmente nos cocker spaniels. A deficiência de taurina foi identificada, nos anos 80, como o fator mais importante associado com a cardiomiopatia em gatos.